"Vamos, menina!"
Quase posso ouvir a minha vó dizendo: "Que moleza, hein? Nem parece aquela mulequinha arretada que eu não aguentava ouvir falar o dia todo. Aprontava que era uma benção. Aos 11, eu tinha que te segurar pra você não sair voando pelo mundo. E agora que você está livre, o que aconteceu com as suas asas?"
Boa pergunta, vó.
Eu tinha asas. E era das grandes. Na verdade ainda posso senti-las aqui, mas me entristeço ao perceber que ambas se encontram inertes. Como quem levou uma surra. E sem conseguir se mover elas lutam, em silêncio, para seguir seus instintos, sua natureza, e voar.
Mas... Ei, não teria sido justamente a minha decolagem que as feriu?
(...)
Me debati tantas vezes negando a proteção, por tanto querer conhecer o mundo, que eu tive o que quis. Alcancei meu objetivo.
Por fim descobri que realmente, o mundo é dos espertos. E quem é esperto não sái com suas asas expostas na rua.